sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Esse é do ano passado!

As duas metades da laranja

Eram um só antes que interviessem entre eles, antes que acabassem com a união pacífica, perfeita.
Como se fosse novela, em imagens reais. A mãe prepara a janta, os filhos chegam da escola, tomam banho e aguardam a chegada do pai, que, de tão cansado e faminto, apenas lava as mãos e se senta para jantar – o banho fica para a hora antes de dormir. E as novidades são contadas entre uma garfada e outra: “a vizinha tem um novo namorado”, “o chefe estava uma fera hoje”, “a professora chamou a atenção de um casal de alunos que estava namorando durante a aula”, “preciso de dinheiro para ir ao shopping com minhas amigas”. E então, terminado o jantar, o pai estica o braço até a fruteira... a expectativa aumenta!! Há dias que ele prefere bananas, ou pêras, ou outras. Há dias que prefere laranjas, e esse é o pior dia de todos.
Todas as noites, durante e após o jantar, eles assistiam a essas cenas juntos, unidos como sempre. Riam quando as notícias eram boas ou engraçadas, torciam para que os corações apaixonados pudessem continuar juntos, unidos como eles. Choravam juntos quando a família perdia membros que estavam presentes no dia-a-dia, e se emocionavam como eles e sofriam com a expectativa de um fim iminente. Porém, eram felizes assim mesmo, pois estavam juntos e aproveitavam cada momento juntos sendo dois corações um só.
Mas naquela noite, havia muita agitação, mais pessoas do que costumavam aparecer naquelas cenas cotidianas, e eles sentiam algo diferente, uma inquietação perturbante, sentiam que algo iria acontecer. Havia mais feijão que de costume, uma salada completa que só viam na televisão, uma carne assada apetitosa estilo “Mais Você” e um arroz branco “soltinho” numa travessa de inox utilizada para quando tinham visitas. Mas isso tudo não era o que preocupava. Havia no canto da pia um refratário diferente, bonito, colorido. E pelos desenhos, seria para a salada de frutas!!
E o momento chegou. Uma a uma, de todas as variedades foi tirada de sua tranqüilidade, de sua mesmice, e foi para o fim, o destino. E não podia ser diferente com eles. Chegou a hora da separação inevitável. Já não eram um só. Agora, eram dois, cada um de um lado, espremidos por mãos impiedosas, mas que não sabiam que o estavam sendo. Separados pelo destino, por aquela faca muito bem afiada, preparada especialmente para isso. Com o coração partido e a tristeza do destino consumado, o amor sobrevivia, pois um sem o outro não era nada, eram apenas duas metades impossíveis de serem completas novamente.
A saudade baterá, as lembranças, que ainda estavam recentes, cairão no esquecimento. A dor é inevitável.
Assim, mais uma história de amor acaba, com cada metade do seu lado, e não tem jeito, pois é a vida e não há o que fazer contra isso, pois, toda laranja tem seu final assim.

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